Nota: Esta narrativa segue, tanto quanto possível, a ordem cronológica dos acontecimentos.

1880

Luiz Leduc e Gabriel Leduc chegam ao Brasil,
trazidos pela mãe, Srª Mathilde Marie Louise Leduc


Fatos e notícias que chegaram ao nosso conhecimento ao longo dos anos nos fazem crer que tudo começou por volta do ano de 1880, quando a senhora Mathilde Marie Louise Leduc, francesa, embarcou em um navio, no Porto de Marselha, no Sul da França, rumo ao Brasil, trazendo seus dois filhos menores, Gabriel e o irmão Luiz, este com cerca de 4 anos de idade, tendo nascido no dia 16 de agosto de 1876 e que é o protagonista desta narrativa. Luiz teria nascido em Marselha e Gabriel em Nice.
Aportaram no Rio de Janeiro, onde passaram a residir em um sobrado na Rua do Ouvidor, o ponto mais chique, na época, para se morar. O pai, Maximiliano Leduc, permaneceu na França, falecendo, muito mais tarde, em Paris, onde residia.O jovem Luiz e o irmão Gabriel estudaram, como internos, no Colégio São Vicente de Paula, na Rua do Matoso, dirigido por Irmãs francesas, localizado no alto de uma pequena elevação, próximo à Praça da Bandeira, no Rio de Janeiro. As irmãs ensinavam, entre outras coisas, muitas modinhas francesas, que os alunos aprendiam.  Certa noite, no Colégio, todos ouviram e viram, lá do alto, a queima de fogos, partindo da direção do centro da cidade. O jovem Luiz, então com 13 anos de idade, perguntou à Irmã o que estava acontecendo e esta respondeu que era a comemoração da Proclamação da República, que acabava de acontecer. Era o quinze de novembro de 1889.
Ao que parece, ele veio da França sem o registro, pois me consta que foi registrado em Palma, no Paraná.
Naquele tempo, todos os sobrados do centro do Rio eram residências das famílias e o térreo ocupado por lojas.  Luiz Leduc contava que, quando já rapaz, morou num desses sobrados, com frente para o Largo da Carioca.  A cidade não dispunha de luz elétrica, mas havia, no centro do Largo, um chafariz com um lampião a gás e, à noite, da janela, ele conseguia ler um livro ou jornais, apenas com a luz desse lampião.
Na loja desse prédio havia um ateliê de fotografia, de um português chamado Sr. Guimarães e, ao que se deduz, o jovem Luiz aprendeu a arte fotográfica com esse senhor, tornando-se um fotógrafo amador e o que possibilitou, mais tarde, em 1907, o convite e a seguir a sua nomeação para fazer parte da Comissão Rondon, como fotógrafo, no estabelecimento das linhas telegráficas, no interior de Mato Grosso. 
No Rio, a família Leduc freqüentava a sociedade. Em casa, falava-se tão somente o francês clássico, segundo confidenciou certa vez, sendo até proibido conversar em Português ou em outra qualquer língua.
A senhora Mathilde, minha avó paterna (ao lado em foto de 1900) era pessoa de posses, dada às artes e até fazia doações para que as Comedies Françaises viessem atuar no Teatro Lírico, de onde a família era assídua freqüentadora e depois no Teatro Municipal, inaugurado em 14-07-1909. Às vezes os 2 jovens eram levados, sob a vigilância de um cocheiro, numa luxuosa liteira, para assistirem às peças líricas. Contaram-me que no alto de uma das portas de entrada para a platéia havia o nome Leduc, provável sinal de suas doações para o Teatro.
O transporte pela cidade era feito nas carruagens puxadas por vários pares de cavalos e a família, certa vez, foi do Centro ao Jardim Botânico, à festa do casamento do Dr. Oswaldo Cruz, então morador daquele Bairro.
A senhora Matilde faleceu, vitimada pela gripe espanhola, que atingiu milhares de pessoas no mundo inteiro, entre os anos de 1918 e 1919 e seu corpo foi enterrado no Cemitério de São João Batista, no Bairro de Botafogo, no Rio. Seus restos mortais foram, depois, trasladados para Cemitério em Paris, na Capela em nome da Família Leduc.O marido, Maximiliano Leduc, que havia permanecido na França, com seus negócios, parece que era engenheiro, faleceu já bem idoso e foi enterrado nessa mesma Capela. Residia na casa de número 44, na Rua Curiós, em Paris.  Conta-se que ele, já idoso, gostava de ir ao jardim de sua casa regar as plantas e, com a umidade do tempo e o frio intenso, contraiu uma pneumonia e faleceu.
O irmão Gabriel Leduc constituiu família no Rio de Janeiro. Minha irmã, Mathilde, deixou, entre seus escritos, uma nota dizendo que certa vez foi com papai Luiz Leduc, à casa do tio Gabriel, no Rio, em visita à família, mas não disse quando. Isto só pode ter ocorrido em 1930, quando a família veio de Cuiabá e minha irmã Mathilde já estava com 12 anos. Nunca mais, porém, tivemos notícia do tio Gabriel.

Papai Luiz Leduc era pessoa muito reservada. Nunca falou conosco sobre sua vida, o seu passado.
Talvez porque fôssemos ainda muito crianças e estivéssemos fora dos assuntos dos adultos.
Crescemos e vivemos juntos dele sem suspeitar nem cogitar que ele houvesse nascido na França, o que, só agora, escrevendo estas páginas, raciocinei que ele, lecionando francês em todas as cidades onde morou e, além do mais, tendo dito que quando era menino, só se falava o francês clássico em sua casa, onde era proibido falar outra língua, fato que constitui prova irrefutável de que ele não poderia ter nascido no Brasil. Aliás, minha irmã Mathilde contava e deixou escrito que ele nasceu em Marselha e o irmão Gabriel em Nice, na França, embora ele sempre dissesse e tenha deixado escrito que nasceu em Palma, no Paraná, onde foi efetuado o seu registro civil. Além do mais, pouco tempo antes do seu falecimento, de vez em quando ele ficava no quarto cantando a Marselhesa, o hino nacional da França e os seus netos ficavam ouvindo do lado de fora do quarto, o que reforça a tese de sua naturalidade francesa. Mas ele sempre amou o Brasil, como qualquer de nós, considerava-se brasileiro de coração e assim o considerávamos. Infelizmente não dispomos de documento seu, nem do registro, nem do casamento.

 
Nota: quem souber a respeito de descendentes de Gabriel Leduc, é favor comunicar-se com o autor deste trabalho.